terça-feira, 8 de abril de 2014

Lições de 31 de março


Alexandre Garcia
Na manhã de 31 de março último, a rádio Estadão de São Paulo, perguntou-me quais as lições a tirar do golpe de 1964. Fui para o exemplo mais próximo e mais atual: a Venezuela. O governo bolivariano vai pouco a pouco tirando as liberdades essenciais: de opinião e de livre manifestação, e usa forças cubanas como auxiliares. O presidente é um incompetente, a economia vai mal, a petroleira estatal é usada pelo governo e pouco a pouco se instala um golpe de estado sem que as pessoas percebam que vão ficar amarradas a um regime totalitário, a exemplo de Cuba. 

 A Venezuela de hoje é o retrato do Brasil de 1963, numa marcha que foi interrompida pelo contragolpe de 1964. O Brasil e o cone sul estavam na balança de ganhos e perdas da guerra fria. Fidel e Guevara aconselhavam: vocês precisam de uma revolução como a nossa. A idéia era implantar um regime como o cubano, servil à União Soviética, como fica claro pelo discurso de José Serra, então presidente da UNE, no malfadado comício de 13 de março. Foi o mais provocativo dos discursos. Brizola e Serra foram, talvez, os que mais deixaram os militares de cabelo em pé. 

Se Francisco Julião, no Nordeste, organizava as Ligas Camponeses como legiões revolucionárias do Partido Comunista para invadir terras e matar os proprietários, Brizola, no centro-sul, mandava cabos e sargentos matarem os oficiais. Anos depois, em sua casa, Brizola me confidenciava que foram “arroubos da juventude”. No 31 de março de 1964, o prefeito de Encantado, interior do Rio Grande, bateu-me à porta em busca de volutários para defender a prefeitura, que seria atacada pelo Grupo dos Onze, de Brizola, organizado como uma unidade militar de combate. Eu tinha 23 anos, era funcionário do Banco do Brasil, e fiquei na prefeitura à espera do ataque que não houve. 

 Mas acabou havendo um ataque da VAR Palmares, Vanguarda Popular Revolucionária Palmares, da qual Dilma participou. Foi contra o Banco do Brasil em Viamão, onde eu trabalhava e fiquei sob ameaça das armas do grupo, que gritava vivas a Che Guevara. Havia uma mulher no grupo, mas não era a Dilma. Foi em 1970. Hoje vejo que se tenta fazer a cabeça de quem nasceu depois de 1970 e não testemunhou os fatos. Segundo o livro do Secretário de Direitos Humanos de Lula, Nilmário Miranda, morreram, nos 20 anos de governo militar, 386 pessoas, a que devem ser somadas às 120 mortas pelos que eram contra o governo. Segundo o “Tortura Nunca Mais”, os que foram mortos pelo governo são 358. Quer dizer, cerca de 500 mortos no confronto, em 20 anos de regime. Isso dá, nos anos de chumbo de hoje, três dias e meio de homicídios. A insegurança de hoje cria o medo. E o medo não é boa companhia para a democracia. Como já apregoava Thomas Jefferson: O preço da liberdade é a eterna vigilância. Não podemos ter nunca mais 1964, nem ser Cuba ou Venezuela.

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