segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Discurso de Dilma sobre Petrobras é desconexo


Eraldo Peres/APAvessa a entrevistas, Dilma Rousseff agora recebe a imprensa até nos finais de semana. O acirramento da disputa eleitoral destravou-lhe a língua. Neste domingo, a presidente trocou um dedo de prosa com os repórteres sobre a Petrobras. Parece aborrecida com a transferência da estatal da seção de economia para as editorias de política e de polícia.

“Se tem uma coisa que a gente tem que preservar, porque tem que ter sentido de Estado, de nação e de país é não misturar eleição com a maior empresa de petróleo do país”, disse Dilma. “Isso não é correto, não mostra maturidade. Agora, utilizar qualquer factoide político para comprometer uma grande empresa e sua direção é muito perigoso.''

Curioso, muito curioso, curiosíssimo. Se tem uma coisa que os governos Lula e Dilma não conseguiram preservar foi o “sentido de Estado” que deveria nortear o funcionamento da maior estatal do país. Há na Petrobras diretores patrocinados por partidos políticos. PT e PMDB não são os únicos. Fernando Collor (PTB-AL), por exemplo, também é padrinho de patrióticas nomeações.

Certos indicados já ganharam estabilidade no emprego. Protegido de Renan Calheiros (PMDB-AL), o ex-senador Sérgio Machado preside a subsidiária Transpetro desde 2003. Responda rápido: executivos carregados nos ombros por políticos prestarão contas ao padrinho ou à hierarquia da estatal? O ex-diretor Paulo Roberto Costa ajuda a responder.

Funcionário de carreira da Petrobras, Paulo Roberto foi alçado à diretoria de Abastecimento a pedido do deputado mensaleiro José Janene (PR), ex-líder do PP na Câmara. Com a morte de Janene, Paulo Roberto foi, por assim dizer, adotado por PT e PMDB. E a coisa acabou numa cadeia do Paraná.

A preocupação de Dilma com a Petrobras é um bom começo. Mais um pouco e a presidente vai acabar se dando conta de que a Polícia Federal só investiga o dinheiro que sai pelo ladrão na estatal porque os ladrões continuam entrando na Petrobras. Quando isso ficar claro, a empresa talvez retorne para a editorial de economia.

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