sábado, 13 de dezembro de 2014

O ATO E O FATO


Brasilino Neto
Caros leitores, durante este ano abordei diversos assuntos em minha coluna “O ATO E O FATO”, mas hoje trago o texto “Prece a Deus”, escrita por Voltaire em 1763, inserta em seu “Tratado sobre a Tolerância” - por ocasião da morte de Jean Calas, cap. XXIII, embora adequada para nossos dias, para que o oremos neste final de ano, em busca de forças, energias e, especialmente que nos dotemos de paz, tolerância, esperança e crença de que podemos mudar o mundo em que vivemos, de modo que cada um saiba os limites de seus poderes e jamais confisque bens e direitos que a outros pertencem.

Prece a Deus – Voltaire (1694-1778).

Não é mais aos homens, portanto, que eu me dirijo, mas a você, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos; se a frágeis criaturas perdidas na imensidão e imperceptíveis ao resto do universo, for permitido ousar pedir algo a você, você que tudo concedeu, você cujos decretos são tanto imutáveis quanto eternos, digne-se olhar com piedade aos erros ligados à nossa natureza; que tais erros não se transformem em calamidades.

Você não nos deu um coração para odiar nem mãos para nos degolarmos uns aos outros; faça com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida penosa e passageira; que as pequenas diferenças entre as roupas que cobrem nossos corpos débeis, entre todas as nossas línguas insuficientes, entre todos os nossos costumes ridículos, entre todas as nossas leis imperfeitas, entre todas as nossas opiniões insensatas, entre todas as nossas condições tão desproporcionais a nossos olhos, mas tão iguais diante de você; que todas estas pequenas nuances que distinguem os átomos chamados homens, não sejam sinais de ódio e de perseguição; que aqueles que acendem velas em pleno meio-dia, para celebrar você, suportem aqueles que se contentam com a luz de seu sol; que aqueles que colocam sobre a roupa um véu branco para dizer que é preciso amar você, não detestem os que dizem o mesmo debaixo de um manto de lã negra; que aqueles cujas roupas são tingidas de vermelho ou púrpura, que dominam uma parcelazinha de uma porçãozinha do barro deste mundo e que possuem alguns fragmentos redondos de certo metal, usufruam sem orgulho daquilo que eles chamam de grandeza e riqueza, e que os outros os olhem sem inveja: pois você sabe que nessas vaidades não há o que invejar nem do que se orgulhar.

Possam todos os homens lembrar-se de que são irmãos! Que todos tenham horror à tirania exercida sobre as almas, do mesmo modo como acham execrável a bandidagem que toma à força o fruto do trabalho e da indústria pacífica! Se os flagelos da guerra são inevitáveis, não nos odiemos, não nos dilaceremos uns aos outros no seio da paz e empreguemos o instante de nossa existência a bendizer igualmente em mil línguas diversas, do Sião à Califórnia, a sua bondade, que nos concedeu este instante.

3 comentários:

Maria Lúcia disse...

E aí doutor, quanta merda acontecendo na nossa cidade. Quantos ordinários tentando tomar conta. Acho que sua presença neste contexto é necessário. E aí?

Paulo L. disse...

Ei Brasilino você sempre nos brindando com seus encantadores textos. abraços fraternos e um 2015 com muitas felicidades e saúde. Aproveitei e fiz também esta Oração

Brasilino Neto disse...

Maria Lúcia obrigado pelo carinho e referência