sábado, 28 de fevereiro de 2015

O ATO E O FATO


Brasilino Neto
Serenidade já!

Cabe ressaltar que não sou especialista em direito internacional e nem nas relações institucionais entre países, mas um simples observador dos fatos do dia a dia.

Tenho uma informação de que a emoção não é a melhor conselheira, assim complementa o ditado: que quando se tiver que decidir alguma coisa sobre este clima que se conte até 10, se não passou vá até 100, se persistir até 1000 e se ainda se mantiver conte indefinidamente até que se amaine e a serenidade se restabeleça.

Assim, se na vida de cada pessoa este ditado deve ser sempre bem aplicado, imagine-se então quanto deva ser útil se aplicado à mandatária maior de um país, de uma nação.

Faço referência ao caso envolvendo a presidente Dilma e o embaixador da Indonésia Toto Riyanto, que ante fatos recentes ocorridos nas relações dos países que atingiu o interesse especial de um brasileiro, fez com que a presidente brasileira dispensasse o embaixador indonésio de sua antessala e dele não recebeu as credenciais que o habilitaria ao pleno exercício de suas funções em nosso território.

Sem dúvida alguma, mesmo com as razões que levaram a presidente brasileira a tomar tal decisão, no caso em comento o mínimo que se pode dizer é, em meu ponto de vista, ela não tinha razão para assim agir.

Digo isto, pois para que se dê a apresentação de credenciais do embaixador de um país à presidente, isto se precede de muitas formalidades, de atos solenes e contatos entre o Ministério das Relações Exteriores e com a embaixada a ser recebida, o que não se dá do dia para a noite..

Porém, no caso em tela parece que as conversas entabuladas pela chancelaria brasileira se deram num botequim de esquina de bairro, aquele que a ironia popular chama de “copo sujo”, porque não se pode admitir que tenha sido conduzida de forma diplomática, e que o embaixador Toto Riyanto que estava à porta do gabinete presidencial brasileiro e antes de alguns minutos da solenidade simplesmente se lhe tenha dito que não seriam recebidas suas credenciais e que se fosse.

Para se ter bem a ideia da gravidade da atitude do governo brasileiro, transportemos esta situação para nossa vida pessoal, quando convidamos cinco amigos para virem até nossa casa para bater um papo, umas cervejinhas e em dado momento pedimos que entre quatro e ao quinto dizemos para que vá embora, que não poderá entrar, pois está desconvidado para o encontro. Não é mesmo para ficar “p” da vida?

Esta situação, além da exposição ao ridículo que o Brasil se coloca diante das relações diplomáticas mundiais, pode inclusive ter desdobramentos sérios nos relacionamentos institucionais e comerciais entre estes países, como o caso que se aventa, em que a Indonésia cancele a compra de 16 aviões de combate EMB-314 Super Tucano, fabricado pela Embraer e lança mísseis pela Avibrás.

Voltemos então à tese inicial: Se para a vida de cada pessoa já se deve tomar muito cuidado quando a emoção fizer parte do contexto no momento da decisão, quanto mais o deve a mandatária de um país que quer pertencer ao Conselho de Segurança da ONU e integrar o grupo dos países realmente civilizados e respeitados no contexto das nações.

Esperamos, pois que nossa presidente tenha serenidade para saber decidir os graves problemas que temos interna e externamente, mas que o faça sem tendências partidárias, sem vieses ideológicos e, sobretudo, sem deixar que a emoção contamine a decisão a ser tomada, pois se isto não se der perdemos todos.

Um comentário:

Carlos Karnas disse...

Perfeito, Brasilino Neto. Se não totalmente, um mínimo de elegância e respeito deve haver nas relações diplomáticas. O país deve ter personalidade e tal personalidade deve ser regida e demonstrada por atitudes de governo. No caso brasileiro, a personalidade nacional está comprometida, a partir do fato de que o governo Brasileiro não está afinado com regras internacionais, nem mesmo para pagar as cotas que deve a ONU e outros organismos representativos de nações dos quais integra. Além do mais - minha opinião - é extremamente vergonhoso, no caso da Indonésia, a postura do governo brasileiro de tomar partido de causa pouco nobre, que envolve dois brasileiros traficantes criminosos, flagrados, presos, julgados e condenados à morte (um já foi executado em janeiro). Por conta disso (da atitude do governo Dilma) e em represália ao ato infantil com o embaixador, o governo daquele país já acenou com o rompimento de contratos com a Embraer e Avibras. O reflexo imediato é a suspensão de compra de 8 aviões Tucano da Embraer (8 já tinham sido entregues) e da suspensão do contrato com a Avibras de R$ 900 milhões (metade da entrega de lançadores de foguete também já foi concluída). Sabe-se que a situação da Avibras é sensível no mercado de fabricantes de armamentos. A indústria do Vale do Paraíba não paga funcionários desde o ano passado e férias temporárias persistem. Ou seja: por conta de dois criminosos condenados à morte (pelas leis da Indonésia), o Brasil é prejudicado na imagem internacional e na economia local, por atitude besta e infantil do governo Dilma.