sábado, 14 de março de 2015

O ATO E O FATO


Brasilino Neto
Não perdôo !

Pode-se inicialmente entender que haja uma contradição entre o título e o início desta matéria, mas não há, pois perdôo sim os escândalos do mensalão, petrolão e de outros “ãos” que poderemos ter, mas não perdôo a bestialidade que ocorre a cada início de período letivo em grande número de universidades brasileiras e que nossa sociedade assiste passivamente.

Faço referência ao ignominioso trote, onde muitas vidas são ceifadas por atos estúpidos, inconseqüentes e, o que é pior, por decisão de uma coletividade cujos membros, em breve serão comandantes dos destinos de grandes empresas e do país

Inúmeros e tenebrosos são os casos que ocorrem nestas épocas, onde invariavelmente a morte está entre as ocorrências, além de mutilações e sequelas físicas e psicológicas que acompanham os agredidos e seus familiares por toda a vida.

Este ano, infelizmente não fugiu à regra e mais um estudante da Unesp de Bauru, Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, do quarto ano de engenharia elétrica foi a triste e irrecuperável vítima, após em uma festa denominada Inter Reps, um encontro de estudantes das repúblicas da cidade, onde compareceram cerca de 2.000 pessoas, ter ingerido em uma insana disputa, 25 doses de vodca. Seis outros estudantes foram internados, três deles em estado grave.

O estudante-vítima, num triste prenúncio cravou em seu Facebook a frase de Maiakovski: “É melhor morrer de vodca do que de tédio” e sobre a qual a psicanalista Maria Lúcia Homem afirmou no “Aliás” do Estadão de 8 de março que: “Algo do animal humano insiste em se alojar na inconsciência como defesa contra a angústia. Porque a vida dói. Simples assim. O mundo real está cada vez mais perto, o monstro engolidor de gente e rotinas”.

Neste mesmo caderno o sociólogo José Martins de Souza assegura: “É o tudo ou nada do radical descompromisso com o tempo atual, em que tanto importa viver quanto morrer” é o “Vira-vira. Universitários celebram a lógica autodestrutiva das bebedeiras”. Triste.

A insanidade a que chegam os participantes destes rituais de passagem, e ainda me valendo do texto da psicanalista Maria Lúcia afirmo: Não precisamos de Hegel para saber que um encontro com outro humano, por mínimo que seja é um embate. Um pacto, um nascimento, um casamento, um negócio fechado – qualquer vitória merece um brinde. Qualquer derrota, especialmente como esta que comentamos nos resta o choro.

Abandonamos os parâmetros da racionalidade, achegamo-nos na inconsequência, na incapacidade em administrar o próprio destino, passamos a compor a consciência coletiva daquele momento que vivemos e não a individual, pois quando ouvimos da galera o grito de guerra de “beba mais, beba mais”, assim fazemos, não estabelecendo limites do que devemos fazer para erguer o brinde à felicidade ou a busca do lenço para enxugar as lágrimas.

Mais uma vez, como sempre soe acontecer neste país chamado Brasil, vemos também a insólita e tardia informação, depois do arrombamento da porta, que: “Promotores de Justiça de Bauru, vão pedir a proibição das festas “open bar” na cidade”. Sugiro que eles leiam a interpretação de Hegel sobre o comportamento coletivo e ajam sempre preventivamente.

Recomendo, para melhor interação deste tema, a leitura dos artigos da psicanalista Maria Lúcia Homem, “A musa da inconsciência”, o do sociólogo José de Souza Martins, “Ritual de Moagem”, ambos do caderno “Aliás” do Estadão de 8 de março, o artigo de Luciano Pádua e Victor Fernandes, “Quem morre primeiro” da Veja desta semana (p. 80), do psicanalista Jairo Bouer, “Pico de bebida aos 20”, Estadão/Metropole, p. A-24 e o de Pasquale Cipro Neto, “O trote e o nosso incurável atraso”, “Cotidiano” da Folha de 26 de fevereiro de 2015.

Um lembrete final, embora saiba que é lhes pedir demais: Que nossas “autoridades” ajam em casos tais no sentido de prevenir e não em remediar, neles “remediar” é sempre tardio.

3 comentários:

Maria Aparecida Fonseca Ribeiro disse...

Concordo c vc Brasilino, entretanto, os pais de hj nao sabem do que sao capazes seus filhos (nem pro bem nem pro mal) e muitos atacam as escolas.. depois q acontecem as bebedeiras q eles nunca perceberam ou sequer tolheram...Pior, os pais tb se embebedam e as crianças se acostumam desde pequenas com a "normalidade" na ingestão de alcool.. é bem fundo o buraco!!!

Jefferson Iunes Fernandes disse...

Meu amigo Brasilino, como sempre muito pertinente ao relatar os fatos,estou contigo ,em gênero número e grau ,temos que priorizar a educação o que estamos vendo hoje,é bem diferente que temos por conceito meu amigo do peito !!! Abraços !!!

Jayme Falcão disse...

Brasa falou,disse provou e vou junto com você nesse texto. PARABÉNS