sábado, 14 de março de 2015

O FIM DO PODER POLÍTICO (Chacoalhando o Bambuzal)




Há quem acredite que o panelaço do fim de semana e as manifestações previstas para domingo são iniciativas da “classe dominante” ou da “mídia golpista”. Os rótulos podem até funcionar como retórica para convencer a militância mais aguerrida, mas são insuficientes e equivocadas para compreender a realidade. Como atenuante aos que seguem o discurso da “coisa de burguês” é preciso dizer que as manifestações marcadas para o dia 15, assim como os protestos dos caminhoneiros e dos professores estaduais no mês passado, estão inseridas em uma dinâmica nova. Obedecem a uma lógica diferente, fundada na mudança das relações de poder entre cidadãos e Estado.

O poder está se tornando algo fácil de conquistar, mas difícil de manter, está mais disperso entre os atores da sociedade, está menos absoluto e menos institucionalizado. Ocorre hoje o que o pesquisador Moisés Naím chama de “O fim do poder”, em obra do mesmo título. No livro, o pesquisador define poder como “a capacidade de impor ou impedir as ações atuais ou futuras de outras pessoas ou grupos”.

Esse poder – “do pequeno domar (e por vezes dominar) o grande” – se manifesta na capacidade de vetar, contrapor e limitar o poderio dos grandes atores da política. Uma série de fenômenos conjugados leva o poder estatal a ter a sua força resistida, imobilizada, e transformada em fraqueza.

O cidadão conectado a mídia social emerge na sociedade contemporânea como um guerreiro, capaz de mobilizar forças rapidamente via redes sociais. Ágil, consegue agregar apoio de outros indivíduos e organizações para suas opiniões e reivindicações. Tem em um clique, uma infinidade de ferramentas a sua disposição, uma astronômica oferta de informações capacitando-o para o debate.

No Brasil, fatores políticos conduzem seus cidadãos a um ponto crítico de tensão e reação. São eles: Esgotamento da política de coalizão, voto obrigatório, desvios de bilhões de reais da maior estatal brasileira, saúde, educação e infraestrutura sucateadas, retrocesso econômico, aumento de impostos, inflação e redução do poder aquisitivo, nível escolar e cultural baixo da maioria dos políticos, concessões de privilégios a amigos e partidários. E muito mais... 

O fim do poder como os políticos conhecem está chegando, o povo munido de um computador e muita vontade de mudar o atual sistema faz tremer os poderosos. Temerosos passam a rotular maliciosamente as manifestações populares.

Os manifestantes estão forçando os governantes a lembrarem das consequências de seus atos. A partir de agora não dá mais para prometer uma coisa e fazer outra. Não dá para mentir para o povo e nem fingir que a crise do país tem origem exclusiva no cenário internacional. Não dá para realizar reformas que atinjam o bolso do contribuinte sem o devido debate com a sociedade. Nem se aceita mais que governantes saiam ilesos de escândalos de corrupção, causados por suas péssimas escolhas políticas, apenas por alegarem ignorância dos fatos.

Que as manifestações do dia 15 despertem a real democracia, o direito individual, o respeito às leis. Que o radicalismo, grupos corporativos e de classes sejam expurgados da vida política do país. Enfim, que seja o fim dos privilegiados e que todos os cidadãos sejam apenas brasileiros.

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