quarta-feira, 13 de maio de 2015

POESIA NO BLOG

O blog Clovis Cunha e ABC = Ars Brasilis Caçapava a partir de 1 de maio publicarão neste blog, às terças e sextas feiras, contos e poesias.

A parceria tem a finalidade de mostrar aos leitores textos que enlevam e trazem esperanças, entendendo que através deles é possível tornar o mundo, hoje cáustico, mais ameno.

Caso o leitor tenha um texto de especial agrado, mesmo não sendo de sua autoria, poderá fazer a indicação.

Participe encaminhando os trabalhos para o e mail arsbrasilis@yahoo.com

Por Brasilino Neto

INSENSÍVEL

Brasilino Neto

Seus roubos

Não lhe rouba a paz?

Roubar de pobre?!

ver-me aqui
(amando)
o próximo

você verme
ali (roubando),
o pobre

Imundo
é o mundo
(dos ladrões)
De pobres

Imundo
é o mundo
de quem rouba pobres

a cesta básica
que lhe mata a fome

tira-lhe o direito
em ter saúde

conferindo-lhe só
o do ataúde.

rouba até mesmo
o dinheiro do pão

não lhe dá segurança
nem educação

o transporte é indecente,
pois o que transporta,
entende ele não ser gente

pois vão como gado
amontoados
em vagões lotados

sofrendo assédio
aumentando-lhe o tédio

chegando tarde
em sua casa

sem ninguém lá dentro
pois abandonada

mulher e filhos
juntaram a mala

saíram de lá
antes de ser alagada

com a luz cortada
e sem água encanada

vê-se sempre esquecida
e abandonada.

Imundo

É o mundo

De quem rouba o pobre
Você
É um imundo
Um vagabundo.

Mas a pedra quente
Nas profundezas a ti espera

Pois somente isto,
ardendo,
se redimirá
O que roubou do pobre

Imundo

É o mundo

De quem rouba o pobre
Você é imundo
Seu vagabundo.

Não roube!
(mais) a pobre algum

Que nada mais tem,
Além de sonhos

Eis que até
As esperanças,
você lhe roubou.

Imundo seja seu mundo.

Porque você roubou do pobre!


POEMINHA MATEMÁTICO

Marcelino Freire

100% do teu peito
já está tomado

você me mostrou
todos os cálculos

metade à família
ao pai à mãe

mais 20%
para o cachorro

os amigos do face do bar
nem vale contar

15% aos cigarros
às putas qualquer valor

literatura cinema
música jogo

o time do coração
passando sufoco

ao país também à cidade
todo sentimento é pouco

quase nada
foi o que sobrou

desta mísera parte
é feito o nosso amor


GRAVATA COLORIDA

Solano Trindade

Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...


SILÊNCIO

Sérgio Géia

Hoje reencontrei você, amigo. Há quanto tempo, hein? Tudo bem, mais por minha culpa que sua. Essas velhas manias do mundo moderno que afastam os amigos de verdade. Não, querido, eu não pensei no Facebook. Aliás, honestamente? Tenho minhas dúvidas se ele afasta ou aproxima. Acho que aproxima, desde que a virtualidade seja uma ponte.

Moro aqui faz seis meses. Gostou? Tive a opção de alugar um no segundo andar, abençoado pelo sol da manhã, ou esse aqui, triturado pelo sol da tarde. As crianças palpitaram e eu fiquei com esse. Se bem que a vista daqui é muito mais bonita. Olha lá: veja a igreja, a Praça Santa Teresinha, o prédio do relógio, a Serra da Mantiqueira. Sem esquecer, claro, do McDonald’s ali, de O Mandachuva, do Fritz.

Mas que domingo chuvoso, não? Quando você bateu na porta eu ouvia bem lá no fundo o som de uma criançada brincando. Tomei banho, recolhi do travesseiro “Esse tal Lucas”, do Cortazer, enchi uma taça de vinho, um recipiente com amendoins, e me pus a ler ao som da gurizada, recebendo as fragrâncias do perfume da infância que me fez ir até a minha antiga casa na Desembargador, à calçada da Domingos Cordeiro Gil, às brincadeiras noturnas numa avenida que produzia pivetes aos montes.

Até então, aqui, não tinha exercitado esse prazeroso hábito de ler ouvindo o barulho da chuva, o som de crianças brincando (na chuva? Sei lá), saboreando um tinto português a cada intervalo que me impunha, quando pulava de uma crônica a outra. E foi lendo Cortazer que meus olhos pescaram cada preciosidade, amigo, que se fosse na cama, no preâmbulo do sono, não conseguiria. Veja essa: o campo, esse lugar onde os frangos passeiam crus?, olha que maravilha! Ou essa: uma paisagem, um passeio no bosque, um mergulho numa cachoeira, um caminho entre as pedras só podem nos preencher esteticamente se temos a garantia do regresso à casa ou ao hotel, ao banho lustral, o jantar e o vinho, a conversa à mesa, o livro ou os papéis, o erotismo que tudo resume e recomeça.

E tudo isso só foi possível com a sua chegada. Está certo que no dia a dia eu te esqueço e ponho a Roberta Sá, o Nando, a Céu, que se revezam no meu aparelho a cada semana, até que uma imagem tosca na telinha estrague tudo. Prefiro não. Talvez eu não consiga exercer o direito de pensar e decidir. Simplesmente faço. Pois nesse domingo resolvi fazer diferente. Deixei esses amigos fantásticos de lado, dei à luz o preto da telinha, pra bater um papo sereno com você, tomando um tinto português, comendo um amendoinzinho. Bater papo, não, isso é força de expressão. Na verdade eu só ouvi. Pois quando você chega, eu consigo escutar o que vem de dentro.

Um comentário:

Paulo L. disse...

Brasa parabéns, estas suas iniciativas fazem o mundo ficar mais ameno. Este poema de Marcelino Freire, que não conhecia, é uma obra prima. Os demais também muito interessantes. abraços